quarta-feira, 18 de maio de 2011

Estado de Sítio

"As cidades se fecham em si mesmas
O argumento da degradação das relações humanas
Cria o elogio à violência
Que além de espiada e pensada
Coloca-se cada vez mais presente
No grande mundo através de guerras
No mundo interior na forma de discriminação
Uma série de pequenas maldades
Se destilam em nossas almas e mentes
Desejos íntimos de execuções sumárias
Admiração a justiceiros genocidas
Vem a nos preencher o interior vazio da consciência
Como um elixir entorpecente
Transborda nossas grutas interiores
Com desejo de morte e odor pútrido
Pra tudo aquilo que não entendemos
Que não conhecemos
Sem que isso crie em mim ou em você
Necessidade alguma de maior compreensão
Nem mesmo capacidade de sentir ou colocar-se no lugar do outro
E novamente tomados de desejos egoístas e assassinos
Clamamos por penas de morte e chacinas em nome de segurança
Cidades cada vez mais fechadas, condomínios, ruas particulares
Milícias, shoppings e torres de vidro blindado
Que nos assegurem de nossa própria vontade demente
De punir infratores
As infrações são sempre alheias
Estamos quase sempre ungidos de inocência e boa vontade
Não há nada de errado em se dar bem
Não hei de me tornar alvo por ser bem sucedido
E assim fecho-me em muralhas
O imperativo é nos isolarmos cada vez mais com nossas migalhas
Que se limpe a cidade: de ruídos noturnos, esmolantes, dos sujos,
Dos caídos, da alegria subversiva das meninas e meninos de rua,
Do vigor da prostituição, do apagado colorido dos bares populares
Dos cães de rua e seus respectivos donos, dos catadores de reciclável, da permissividade boemia,
da essência humana que coabita na coexistência dos diferentes.
Vamos limpar das cidades o desejo humano do prazer do sexo
Permeados em olhos famintos que desejam e comem
O Brasil que tem fome
Nos isolando na reclusa solidão de nossas casas e apartamentos
Gozando a mais profunda perversão de nossos sentidos solos
Engaiolando nossas súplicas e desejos numa oração profana
Cada vez mais egoístas, solitários nefandos
A ordem se constrói de entradas e saídas
Ausgang-Eingang
Nossas cidades estão se tornando sítios dentro de gaiolas
Será que o Ibama conseguirá libertá-las?
Sendo assim, índios, mestiços, negros e nordestinos devem saber
Colocar-se e apreciar as entradas de serviço
Pois isso corrobora para a segurança das pessoas normais. Normais?
Belezas são coisas acesas por dentro
Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento".

terça-feira, 10 de maio de 2011

6 de maio

Todo mundo tem amigo, menos eu. Menos eu. Que corro e fujo de todos que têm amigos demais.
É um drama de menino, de pequeno.
Já é uma e tanto, já não é de espanto. E corre o tempo, foge a lua.
Fogem todos, inclusive os amigos. Os meus tantos.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Demais

Guardo cinco tubos de creme dental no armário porque tenho receio de que um dia acabe e eu saia de casa com bafo matinal. Eu exagero na força da escovação na tentativa de que meus dentes clareiem. Até que eu sinta algum efeito - que nunca acontece - ou até que minha gengiva retraia a ponto de precisar de uma pasta para dentes sensíveis, mesmo tendo a despensa cheia disso.
Me entrego a três livros e textos e inúmeras referências, mas nada resolve. Não resolveu dessa vez. De novo, mesmo previnido demais.