quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A ilha - seja ela qual for

O poste em frente a meu prédio, que dá na janela do meu quarto, explode um pouco a cada momento quando chove. Imagino que escorra pra dentro do aparelho algo que não pertence ali, por isso o choque. O incômodo provoca esses desencontros.
Estou caminhando pela pracinha do Hippo, é verão e transpiro feito um porco. Chamo de Alto Centro e me sinto muito bem ali apesar de não pertencer. Estou sentado num banquinho, vendo a floricultura fechar, cachorros e seus donos caminharem, sentindo o dito Vento Sul soprar forte como de costume. Espero dar sei lá que horas, mas espero que seja o quanto antes porque caminhei não sei de onde até aqui, procurando o lugar do estágio. Faço uma ligação, tento agendar vôos e valores.
Daí que resolvo descer a rua do mercado, mas sempre me perco naquele Centro. Acho sempre que estou na rua do meu restaurante mexicano favorito, que dá ali na outra pracinha que fica perto dos bombeiros, que está perto da rua da pizzaria barata, que desemboca na Rio Branco. Não sei, nunca entendi bem e sempre me perdia naquelas ruas. E aí que saem mil pessoas, tomam café, abrem embalagens de comida pronta, conversam alto. 
Estou cansado, o calor continua a imperar, o ar que agora transita tem a mesma velocidade que meus passos, não refresca nada. Entro no carro, desço o vidro, coloco a mão pra fora, faço o vento circular. Sou um tanto feliz neste momento, mesmo sem visitar praças, bares distantes de nomes estranhos, batatas fritas com cheddar maçaricado, espumantes com suco de pêssego, sinucas, burritos, temakis infinitos, cafés, sobremesas roubadas, trotes, cinemas pequenos, shoppings distantes, mesmo no continente. Mesmo enxergando todas as árvores como árvores desenhadas em gibi, todas iguais. Fui feliz mesmo com tantos pontos e pontes, que hoje me distanciam daí. Fui feliz porque nunca precisei cheirar postes.
Tenho sentido uma dor imensa na nuca, não sei de onde vem, mas desce até onde encontra o final do pescoço. Também carrego ombros cansados, uma escoliose ferrenha, pulso machucado, tornozelos fodidos e uma garganta marcada por uma leve inflamação. Não é gratuito dizer, são silêncios internos manifestados. "Não sei viver com silêncio resolvendo as coisas", eu digo. "Eu escuto seus silêncios", leio. Podem ser declarações impressas em meu corpo, é um conduíte estragado que resolveu dar curto em plena época de necessidade da melhor condição possível. Apenas deveria funcionar para mim mesmo.
Segunda é um dia incomum e eu deveria dizer coisas, mas não quero explodir como faz o poste em frente à janela de meu quarto quando chove.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sobre 2009 ou já 2010