quinta-feira, 9 de outubro de 2014

De modo

A pálpebra deu de piscar involuntariamente e insistentemente
como uma resposta para a vida que resolveu parar abruptamente. 
Agora há de se reprogramar, 
pois inesperadamente
veio a necessidade outra vez.
Como se já não fosse claramente
o que habitava meu desejo
ininterruptamente.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Para não deixar saudade

Eu me vou e é como se meu esforço em ir te trouxesse dor. Em nada deveria lembrar tal coisa. Última verdade que eu te entregaria seria sofrimento. Mas aqui já não caibo tampouco caibo em mim. E permanecer seria vegetar - não mais consigo.
É pela ausência de palavras naquele nosso abraço molhado e salgado que agora escrevo. Como se naquele momento sermos mudos fosse o mais correto a se fazer. (Mas agora já talvez não seja). A fim, portanto, de que se possa dizer do que não foi antes posto em verbos. 
Eu me vou. Você, um dia, vai me ver. 
Talvez a gente ainda tenha outros tantos abraços salgados a enfrentar. E outros tantos não-ditos e textos e olhos vermelhos. Sem regra, sem obrigação, sem cobrança, sem tristeza. Com amor.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Caras peculiaridades com fins de apreciação

O momento em que se acendem as luzes dos postes da rua pequena onde eu morava. O cheiro que vaza das plantas e da terra quando molhadas. Tão marcante quanto o aroma de uma tangerina quando é aberta em qualquer ponto distante de um ambiente, fazendo-se notada por todos. Perceptível e incrustado como o líquido de sua casca ao tocar as pontas dos dedos de quem a manuseia. O "dorme aqui". Os últimos minutos de um fim de tarde que deixam o céu entre um laranja-Cebion e outros tons-Ursinhos Carinhosos. A gentileza no ato de duas jovens senhoras de servir a uma menina, confiada por sua avó ao motorista do ônibus, um remédio para enjoo a fim de que ela possa suportar quase doze horas de estrada até encontrar sua tia, que vai lhe criar. O abacaxi doce. O beijo e o abraço nutridos de verdade e de timidez quando meu avô me recebe "você é sempre bem-vindo". O olhar direcionado de atenção entre momentos no sexo que significa que não estamos sendo somente animais. A displicência com o que tenta dizer a etiqueta, o fazer estar à vontade. O "fica mais". O atalho no terreno do meu caminho diário que me poupa alguns minutos de caminhada. E a caminhada de volta pra casa quando o sol já está baixo. O relevo que se mostra no contraste com o céu mais iluminado pela lua. O gole que marca a constatação do "estou alto". Conversas que me dão uma certa energia que me mantém coeso e humano. O frio numa praia pra me fazer repensar meu gosto por praia. O fim.