terça-feira, 27 de outubro de 2009

Diferença

Não consigo fingir naturalidade se tem alguém fumando maconha do meu lado, assim como o cigarro me incomoda pela fumaça e eu não deixo de tossir. Bem como não ter com quem conversar, mesmo com a sala cheia e sentir distância nas pessoas porque todo mundo está desencontrado em seu próprio umbigo. Tal qual eu mesmo, estando perdido. 
Deus não me fez para suportar nada disso, a não ser que eu tivesse de. Para entender o que existe e por quais motivos. E agora entendo a menina bonita puxando quatro cigarros de maconha em menos de três horas: faz parte de um plano. Em algum momento, ela descobre que teve de passar por isso para descobrir que foi idiota ter fumado tanto. Da mesma forma que descubro que não preciso achar ruim o comportamento de alguns alemães (tive de concordar com o senso comum que diz do frio das pessoas) e que existe, sim, gente simpática por aqui sem estar bêbada para ser simpática. 
Da mesma forma, entendo que Reza - o cara do Irã que veio do meu lado no trem para Rostock - não goste do islamismo, das burcas que as mulheres usam, que a sua mulher usa e entendo, também, a sua simpatia, apesar de mal conseguir falar inglês e misturar alemão em toda frase. 
Assim como as duas Alemanhas que existiram um dia e estão fundidas há 20 anos. A passeio em Rostock-Warnemünde (solo ex-oriental), percebo algumas diferenças: o campus universitário, onde tenho estado, é da época comunista, assim como boa parte de monumentos e construções da cidade. Tem a história de um hotel à beira da praia, em que o então governo fazia escutas telefônicas e outras artes de espionagem com os ricos que lá se hospedavam. Pela vontade de descobrir o que pensavam do sistema e afins - algo como tivemos na época da ditadura e sua censura. 
Aí citei Caetano e Chico - ambos exilados naquele tempo - para minha amiga, que me explicava um pouco sobre o comunismo alemão e lembrei da diferença da 'liberdade' de hoje. E pensei em todas as relações interpessoais, como sempre penso e gosto de me dedicar a elas.
Nada disso me é novo, a não ser pelas palavras que aprendi em outro idioma (qual língua eles falam no Irã?) que não o alemão. Só me fez repensar que o mundo todo é um só lugar e todo mundo é igual, ainda que indiferentes, simpáticos, fumantes, religiosos, descrentes, comunistas ou de direita.




As coisas, as ruas e as pessoas @ Warnemünde

5 comentários:

  1. É a cidade que Franny estuda?

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  2. tenho certeza que você não está aí por acaso...

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  3. Também tenho, Dedé!
    Irmão, mantenha o coração tranquilo e a mente elevada, por que das coisas do alto se discernem todo procedimento.
    Te amo!

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  4. Hum...texto bonitão e sinto sei lá porque que vc finalmente começa a se soltar, o que significa por sua vez, que ai está vc escrevendo sendo vc mesmo. Do jeito mais bonitinho possível. Não fume maconha, não vire uma pessoa fria, ainda que permaneça com essa casca de durão, não esqueça das diferenças que fazem vc ser quem vc é de alguma forma, e aprenda o máximo que puder sobre coisas diferentes. Esqueça os idiomas e use o filtro solar..haiuhauahua...
    saudades de vc. se cuide.

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  5. Massa o texto.... Ê Iulo, depois tú me dá autografo no livro que você vai escrever viu? rsrsrsrs Abraço. Muito legal.. te cuida!

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